Realizada na sede da Almada Mundo Associação Internacional, em Almada
nos dias 9, 16 e 23 de fevereiro
A propósito do livro de contos Narrativas do Lado Contrário, desenrolou-se em três fins de semana um evento continuado sobre o diálogo entre a pintura e a literatura.
Rui Freitas, autor do livro Narrativas do Lado Contrário (e também artista plástico) e João Rafael, artista plástico (e também poeta), amigos e companheiros das artes há mais de 30 anos, conversaram com a audiência e responderam a perguntas sobre o livro, sobre pintura e sobre as ligações entre a literatura e a pintura.
DIA 9
– Foi apresentado o projeto pela Dra Adelaide Silva da AMAI;
– Rui Freitas e João Rafael falaram da sua ligação pessoal, desde estudantes até hoje;
– Rui Freitas fez um “passeio” pela História das ligações entre a pintura e a literatura, lembrando artistas, pensadores, filósofos e estudiosos, desde a antiga Grécia aos dias de hoje. Passou por Simónides de Ceos e Horácio; Gioto, Richard Wagner e Camões; René Wellek, Edmund Burke e Lessing; Roland Barthes a Almeida Garret até Will Eisner e a novela gráfica, passando pelos românticos e pelos modernistas, até Réne Magritte e o cachimbo que não é um cachimbo…
– Rui apresentou resumidamente o livro e leu o conto A Passagem ao mesmo tempo que:
– João iniciou um quadro em três partes, cada uma delas alusivo a cada um dos contos a ler;
Falou-se do conto e do quadro, da inspiração para ambos, das mensagens contidas no conto e da interpretação do João Rafael, plasmada na imagem que vai desenvolvendo.
A análise ao conto focou-se essencialmente nas intenções do protagonista, no significado da sua decisão e se esta não seria afinal, para si uma saída feliz. Será o hospital afinal o verdadeiro lar? A vida será para o protagonista uma prisão libertada pela morte?
Filosofou-se no resto da tarde.
DIA 16
– Rui resumiu o contos A Passagem, lido e explorado na primeira sessão.
– João apresentou a primeira parte do quadro concluída, respondeu à curiosidade dos presentes acerca das mensagens e dos pontos de ligação entre a imagem e a história contada e iniciou a segunda parte do quadro, alusiva ao conto:
– Duas Pessoas Vulgares, lido pelo Rui e a única uma história de amor, contida no livro.
A discussão centrou-se nesta história e também, em grande parte nos pontos de ligação que várias pessoas encontram na mensagem de fundo de ambos os contos. Essa mesma ligação é explorada pelo João, que conduz o quadro de forma a que as duas imagens independentes se completem.
O conto, sujeito a interpretações diversas e até eventualmente de rememoração de situações próximas na vida de cada um, levou a uma exploração do significado da perda e do que vale para cada um o que resta depois, quando só restam as recordações e mesmo estas, sujeitas ao filtro do tempo.
DIA 23
– Rui distribuiu pelos presentes uma folha contendo um resumo de duas linhas, de três contos.
– Rui resumiu os contos A Passagem e Duas Pessoas Vulgares, lidos e explorados nas duas sessões anteriores.
– Rui leu o conto Multiverse.
– João que concluíra a segunda parte do quadro e que entre o tempo de espera pelo início desta sessão e o final desta leitura deixara a última parte lançada, explicou detalhadamente o que da sua leitura dos contos, levou ao resultado, que já muito próximo do final era visível. Abordou, não só a forma como retratou o que a sua sensibilidade retirou dos contos em si e destes enquanto um conjunto, como os vê, mas ainda a sua leitura pessoal dos contos por si mesmos. Para além da imagem global da obra e das imagens identificáveis para quem ouviu e/ou leu os contos, o João abordou a sua interpretação através de representação de símbolos aparentemente casuais, mas que levam a pormenores incontornáveis em cada história e à ligação por si “adivinhada” entre elas.
Sobre o conto, o Rui começou por desvendar a sua paixão romântica e de infância pelas teorias dos mundos paralelos, levando este conto a uma visão algo distorcida de como podemos viver de forma diferente realidades iguais, do quanto podemos ou não acreditar na nossa perceção da realidade e até da ajuda que as memórias poderão prestar-nos no apego a essa realidade. A conversa sobre estes aspetos levou, inevitavelmente à ligação que vários dos presentes, também apoiados pela representação “gráfica” do João, reconheciam entre os três contos.
O foco principal, foi ainda assim a diversidade das interpretações da obra do João, à luz da “trilogia” agora completa.
– O Rui pediu aos presentes que votassem, a partir dos resumos distribuídos, num último conto a ler, que pediu que fosse lido por um dos presentes.
– A Helena Cunha leu Um Dia Como Os Outros, o conto escolhido.
Conversou-se sobre o afastamento e a perda, entre um homem e o seu filho criança; sobre a dor da distância e o medo da aproximação, sobre dois “desconhecidos” tão perto e tão distantes.
Brindou-se à Arte e às Artes, à amizade e à partilha. E foi tão bom…
Obrigado a todos.